Primavera Silenciosa foi publicado em 27 de setembro de 1962, pela bióloga marinha e norte-americana Rachel Carson (1907-1964) e é um livro à frente de seu tempo, que mudou o curso da humanidade ao inspirar a preocupação pública sobre o uso de pesticidas e poluição do ambiente natural, que ajudou a gerar um movimento social muito potente: o ambientalismo (também chamado de movimento ecológico).
Considerado o primeiro alerta mundial contra os efeitos nocivos do uso de pesticidas na agricultura, Primavera Silenciosa é uma das publicações mais importantes do século XX, por trazer mudanças na percepção sobre o uso da substância química e sintética DDT.
O DDT (diclorodifeniltricloroetano) é o primeiro pesticida moderno, que foi amplamente usado durante e após a Segunda Guerra Mundial para o combate aos mosquitos vetores da malária e da dengue. Embora seja insolúvel em água, o DDT é facilmente transportado pela chuva (e também pelo ar) e é solúvel em compostos orgânicos como óleos e gorduras e se acumula em lagos e rios, impactando a cadeia alimentar em diversos níveis, gerando descontroles de diversas populações de seres vivos por contaminação.
Em sua publicação, a autora relata, através de uma linguagem simples e compreensível, como esses inseticidas interferem nos processos celulares de plantas e animais, incluindo os seres humanos. Citando uma grande quantidade de fontes e estudos científicos, Rachel Carson acusou a indústria química de disseminar desinformação, questionando a sabedoria de um governo que permitia que substâncias tóxicas fossem lançadas no meio ambiente sem que houvessem estudos para saber as consequências de seu uso a longo prazo.
Sua pesquisa incluiu estudos de médicos de Institutos Nacionais da Saúde (NIH) e da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos nas pesquisas sobre câncer. O trabalho de Wilhelm Hueper (diretor e fundador do National Cancer Institute) foi um dos mais importantes ao classificar muitos pesticidas como cancerígenos, trazendo as evidências científicas que apoiavam a conexão entre câncer e pesticidas que Rachel Carson buscava.
Com o lançamento do livro, a autora enfrentou forte oposição e muitas críticas, ataques e teve problemas pessoais de saúde, vindo a falecer de câncer dois anos após o lançamento de Primavera Silenciosa. Durante este período, recebeu muitos pedidos de entrevistas e palestras mas seu estado de saúde era grave e a impossibilitaram de se defender dos ataques e panfletagens anônimas contra seu livro. Ainda em vida, recebeu diversos prêmios como a Medalha Audubon, a Medalha Cullum Geographical e uma indicação para a American Academy of Arts and Letters.
A repercussão de Primavera Silenciosa também atraiu apoio de defensores e da opinião pública, e inspirou a rede de televisão CBS a produzir um documentário sobre os pesticidas, que foi assistido por cerca de 15 milhões de norte-americanos, levando o Senado a uma grande investigação durante o governo Kennedy, que trouxe mudanças revolucionárias nas leis sobre o usos de defensivos agrícolas.
Banido da Suíça em 1969, dos Estados Unidos em 1972 e sucessivamente em diversos países ao longo da década de 1970, o DDT tem seu uso controlado pela Convenção de Estocolmo sobre os Poluentes Orgânicos Persistentes. No Brasil, foi somente em 2009 que a fabricação, importação, exportação, manutenção, comercialização e uso do DDT foram proibidos pela Lei nº. 11.936 de 14 de maio de 2009.
Primavera Silenciosa é o legado dessa corajosa mulher que desafiou o poder do governo e de grandes indústrias químicas em pró da vida e do futuro do planeta.
Rachel Carson também é a autora dos livros O mar que nos cerca (1950) e Sob o mar-vento (1941).
O livro pode ser adquirido em livrarias físicas e virtuais, ou diretamente com a Editora Gaia do Grupo Editorial Global.
Por: Patrícia Dijigow
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