Escrito pela pesquisadora Glynis Ridley, o livro "O Segredo de Jeanne Baret" (Editora Europa) relata a fascinante aventura da primeira mulher a circum-navegar o planeta em busca de novas espécies vegetais - proeza que realizou disfarçada de homem, pois naquela época mulheres eram proibidas de embarcar em navios da marinha francesa.
Filha de camponeses, Jeanne Baret (1740 - 1807) nasceu em La Comelle, no interior da França e com seus pais, aprendeu a identificar as plantas por suas propriedades curativas, se tornando uma herbolária com vasto conhecimento em plantas.
Após o falecimento de seus pais, Jeanne Baret passou a trabalhar como governanta na casa de Philibert Commerson, famoso naturalista e nomeado botânico do rei Luis XVI. Sua relação com Commerson se tornou íntima e também permitiu que ampliasse ainda mais seus conhecimentos sobre botânica.
Em 1765, Commerson, com saúde fragilizada, foi convidado a participar da expedição de Louis Antoine de Bougainville. Seus planos previam viajar com Jeanne Baret, que atuaria como sua enfermeira e responsável por seus documentos e coleções de plantas, porém por ser mulher, ela foi proibida de ingressar na tripulação do navio.
Juntos, Jeanne e Commerson elaboraram um plano mirabolante, no qual Jeanne se disfarçou de homem e se juntou à tripulação pouco antes da partida, para não levantar suspeitas. Ainda em alto mar, a identidade de Jeannet já gerava desconfianças e ameaças de violência. Durante a viagem, ela teve que cuidar da saúde de Commerson e assumir as funções de botânico-chefe.
Chegando em Montevidéu, realizaram coletas em montanhas e planícies, sendo Jeanne responsável também por carregar todos os suprimentos e as pesadas prensas de madeira, utilizadas para preservar as amostras vegetais coletadas.
No Rio de Janeiro, o botânico ficou confinado ao navio e Jeanne realizou a coleta considerada mais notável: a da Bougainvillea (popularmente conhecida como primavera), batizada em homenagem ao capitão da expedição. Milhares de plantas foram coletadas durante a expedição, que também trouxe à tona a verdadeira identidade de Jeanne, descoberta por nativos no Taiti. O comandante da expedição decidiu não processá-la, porém o casal foi obrigado a abandonar a expedição na colônia francesa da ilha Maurício, onde Commerson faleceu em 1773.
Jeanne ficou sem recursos e seu regresso à França só pode acontecer uma década após a partida da expedição, em história que ainda envolve a abertura de um cabaré e casamento com um oficial naval francês.
Com mais de 6.000 espécies vegetais e renda vitalícia concedida pelo rei Luís XVI, sua coragem e ousadia quase caíram completamente no esquecimento, numa época onde mulheres eram excluídas de registros históricos e não podiam receber menções por suas descobertas.
Os testemunhos, registros do diário de navegação e do príncipe de Nassau-Siegen (que também participou da expedição de Bougainville) relatam passagens dessa aventura. Parte do reconhecimento veio em 2012, quando uma nova espécie sul-americana da família da batata e do tomate, a Solanum baretiae, foi batizada em sua homenagem.
A publicação, disponível em livrarias, também pode ser adquirida diretamente através da Editora Europa: https://www.europanet.com.br/livraria/literatura/o-segredo-de-jeanne-baret/
Por: Patrícia Dijigow
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