top of page

Blog

Mais de 300 matérias para você descobrir a Botânica

Foto do escritorEscola de Botânica

A história da primavera

Atualizado: 6 de out. de 2023




Sempre associada ao ressurgimento da vida e ao brotamento e florescimento das plantas, a primavera é a estação que marca o início de um novo ciclo de vida na natureza: o ano-novo do mundo natural.


Uma característica das plantas é a sazonalidade, ou seja, elas têm seu crescimento e metabolismo influenciados por estímulos do ambiente, como por exemplo a temperatura, disponibilidade de nutrientes no solo, período de exposição à luz solar (fotoperíodo), umidade e períodos de chuva ou seca.


Desta forma, cada planta apresenta uma resposta específica às mudanças de estações e para muitas espécies vegetais, é justamente a primavera que propicia as melhores condições para o crescimento e floração - coincidindo também com os períodos de maior atividade de animais que atuam como agentes polinizadores, principalmente insetos como abelhas e borboletas.


O desenvolvimento de uma flor exige um grande empenho metabólico por parte da planta, e como as flores são os órgãos de reprodução, o florescimento acontece perante as melhores condições do ambiente que propiciem a perpetuação da espécie. Todas as formas de vida são sincronizadas com os ciclos da natureza e as plantas são extremamente eficientes em distinguir mudanças sutis no ambiente e reagir a elas.


Para um grande número de plantas, a diferença de luminosidade entre dia e noite influencia a produção de hormônios vegetais, responsáveis pelo crescimento, floração, amadurecimento de frutos e senescência, por exemplo. Por este motivo, algumas plantas florescem em meses mais frios e muitas quando o inverno começa a dar lugar para a primavera. Existem ainda espécies que não dependem do fotoperíodo e florescem de modo independente às mudanças na quantidade de horas do dia iluminado e da noite.



O fotoperíodo é definido como a duração do dia iluminado em relação à noite em um período de 24 horas, sendo um fator que exerce influência sobre a floração de muitas plantas. A resposta biológica das plantas ao fotoperíodo recebe o nome de fotoperiodismo e as plantas que apresentam essa reação são chamadas de fotoperiódicas.


O fotoperiodismo é regulado pela presença e ação do fitocromo, que é um pigmento fotorreceptor, que consegue detectar as transições entre luz e escuro, responsável pelo controle da floração de diversas espécies vegetais, assim como a germinação e o crescimento das plântulas.


O fitocromo tem a capacidade de se converter de modo reversível em duas formas (que recebem os nomes de Pfr e Pr) e que absorvem a luz vermelha em comprimentos de onda diferentes. A transformação do fitocromo Pfr em fitocromo Pr acontece durante o período escuro. Em algumas plantas (chamadas "plantas de dia curto"), o fitocromo Pfr atua como inibidor da floração e se as noites são mais longas que o período de dia iluminado, o fitocromo Pfr é convertido em Pr, fazendo com que a planta floresça.


Por outro lado, nas plantas denominadas de "dia longo", o fitocromo Pfr induz a floração, e a planta floresce quando o período de escuridão é mais curto. Muitos pesquisadores preferem utilizar os termos "plantas de noite longa" e "plantas de noite curta", uma vez que o fator determinante está relacionado às horas contínuas de escuridão.



Primavera significa "primeiro verão", palavra derivada do latim "primo vere". Há muito tempo atrás, o ano era dividido em dois grandes períodos: um de clima mais quente, celebrado pelo florescimento e outro de clima mais frio, celebrado pela colheita.


Foi somente a partir do século XVII, que o ano passou a ser dividido nas quatro estações que hoje conhecemos: a primavera (princípio da boa estação), o verão (tempo da frutificação), o outono (tempo de ocaso) e o inverno (tempo de hibernar).


Essa divisão é muito mas relacionada ao hemisfério norte, onde as estações são muito marcantes, ao contrário do hemisfério sul que apresenta com mais evidência, a presença de dois períodos: o de seca e o de chuvas. Essa diferença entre as estações nos hemisférios está relacionada com a maior presença das áreas continentais no hemisfério norte e maior presença de áreas oceânicas no hemisfério sul.


Muito antes da existência de ciências que trouxessem explicações baseadas em comprovações, como as que hoje conhecemos, a natureza e seus ciclos sazonais, já inspiravam e instigavam a humanidade a compreender e marcar o tempo, em tentativas para prever o ciclo seguinte. Dividir o tempo e contar as repetições de períodos de chuva, de seca, de calor ou de frio, por exemplo, eram de extrema importância para a sobrevivência, permitindo plantio, cultivo, colheita e estocagem de alimentos.


Olhar para o céu e se guiar pelo movimento aparente do Sol foi o princípio da criação dos primeiros sistemas de contagem do tempo, originando os primeiros relógios de Sol, que são os mais antigos instrumentos conhecidos para marcar a passagem do tempo ao longo do dia. Sua criação foi possível através da observação do ciclo do Sol e da variação da sombra dos objetos.



Os primeiros relógios de Sol conhecidos são monumentos de grande proporção construídos com grandes blocos de pedra bruta, por civilizações da Babilônia e do Antigo Egito.


Os monumentos megalíticos marcavam posições do movimento aparente do Sol, em dias específicos, indicando por exemplo o último dia do inverno, em marcações bem precisas das mudanças de estações (solstícios e equinócios). Alguns monumentos como Stonehenge (Inglaterra) e o Cromeleque dos Almendres (Portugal) marcavam também as fases Lua e eram usados não somente como grandes observatórios como também tinham grande importância para festividades de cada cultura.


Em muitas civilizações antigas, os alinhamentos de sombras e marcações atingiram grande sofisticação nas construções de templos, como Kukulkán em Chichen Itza, no México, quando segundo a mitologia, o deus serpente desce à Terra para expulsar a estação seca.


Conforme os diversos eventos naturais eram acompanhados repetidamente por milhares de ano, novas tecnologias eram criadas, permitindo cada vez mais a compreensão dos ciclos, até o momento que muitos deles puderam ser previstos com antecipação por modelos matemáticos.


Diversos calendários foram criados para contar o tempo e marcar os dias, baseados no movimento do Sol, nas fases da Lua ou ambos.


A posição das estrelas também foi muito importante para povos antigos, como os egípcios, que acompanhavam cada amanhecer no horizonte até que a estrela Sirius (então chamada Sothis, deificação de Sótis ou Sopdet - a deusa da fertilidade do solo) ficasse visível pouco antes do sol aparecer. Este era o sinal que a época de cheia do Rio Nilo estava próxima e, consequentemente, era o momento de trabalhar a terra.


Os eventos celestes eram ligados em pelo menos três diferentes sistemas de contagem do tempo, usados simultaneamente pelos egípcios. Para a civilização egípcia, o ano era dividido em três partes: período das cheias, período de plantio e período da colheita, onde cada ciclo durava aproximadamente quatro meses.



Da mesma forma que o céu era muito valorizado como um grande indicativo do que aconteceria na Terra, cada povo e civilização também projetou suas tradições culturais na natureza e nas estrelas, através da mitologia e da representação de deusas, deuses e respectivos fenômenos atribuídos, nomeando as constelações e associando suas divindades aos planetas e fenômenos meteorológicos.


A chegada da primavera deu origem a diversos festivais para celebrar a fertilidade do solo, que ao longo do tempo foram incorporadas por novas culturas e crenças ou banidas por outras.


A cosmovisão de cada povo trazia uma compreensão peculiar dos ciclos naturais, assim como as narrativas e histórias de suas divindades eram associadas aos ciclos de vida de plantas e animais. Uma das histórias mais populares que traz uma explicação bastante poética sobre a existência das estações vem da mitologia grega e da relação de mãe e filha: Deméter e Perséfone.


Para os gregos, o mundo havia sido dividido em domínios após conflitos entre os deuses: Hades (Plutão, para os romanos) reinava o submundo, Poseidon dominava dos mares e Zeus era o deus dos céus e da terra, cada qual soberano em seu domínio.


Hades se apaixonou por Perséfone, filha de Deméter (a deusa da fertilidade do solo) e a raptou, levando-a para o submundo. Os pedidos de ajuda de Perséfone não foram ouvidos e sua mãe passou a procurá-la por muitos dias, sem encontrar qualquer sinal de sua filha. Dez dias depois, Deméter soube através de outros deuses, que sua filha estava no submundo, e tomada por imensa tristeza, fugiu e se refugiou em Elêusis, abandonando suas tarefas. Longe dos campos e do cultivo, Deméter traz a infertilidade e seca ao solo. E o mundo passou a viver um período de fome.


Pinax de Perséfone e Hades. (Foto: AlMare, CC BY-SA 4.0 , via Wikimedia Commons)



Preocupado com a situação da humanidade, Zeus solicita a Deméter que volte ao trabalho de colheita dos campos, mas a deusa se recusa e informa que somente retornaria se sua filha voltasse. Hermes, o mensageiro dos deuses, é enviado por Zeus ao submundo com ordens para trazer Perséfone de volta.


Hades concorda com o pedido de Zeus, mas entrega uma romã para Perséfone, que não sabia que comer frutos do domínio de Hades a obrigariam a retornar ao submundo posteriormente.


Ao comer a romã, Perséfone selou seu vínculo com o submundo.



Para resolver a questão, Zeus propões que Perséfone passe uma parte do ano com Hades e outra parte com sua mãe (em algumas fontes, o período equivale a metade do ano ou um terço deste). Quando Perséfone retornava ao submundo, sua mãe traz a infertilidade à terra, em demonstração de sua tristeza, que só é substituída pela alegria do reencontro com sua fila, trazendo de volta a fertilidade dos campos - a primavera!


O Retorno de Perséfone - Frederic Leighton, 1891

Para os romanos, a deusa ninfa Flora representava a força da natureza, capaz de fazer as árvores e jardins florescerem. Após seu casamento público com Zéfiro, deus do vento, Flora passou a reinar sobre as flores dos campos cultivados também.


O mel e as sementes das flores são considerados presentes de Flora para a humanidade.


Flora era honrada e celebrada em um festival romano chamado Floralia, que era relacionado ao ciclo agrário.


Esse festival abrangia representações teatrais, encenações de mímica, solturas de animais associados à fertilidade e uso de vestimentas coloridas, assim como a abundância e variedades de flores utilizadas como decoração.


(Foto: Flora - Stabiae - villa di Arianna por ArchaiOptix, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons)



Segundo a Astronomia, o equinócio é definido como o instante em que o Sol, em sua órbita aparente (vista da Terra), cruza o equador celeste (a linha do equador terrestre projetada na esfera celeste), fazendo com que ambos os hemisférios da Terra sejam igualmente iluminados pelo Sol.


A palavra “equinócio” tem origem no Latim "aequus" (igual) e "nox" (noite), indicando ser o momento no qual o dia iluminado e a noite tem a mesma duração.


A inclinação do eixo da Terra em relação à sua órbita ao redor do Sol que propicia os ciclos diferentes de noites mais longas e dias mais curtos em um hemisfério, e noites mais curtas e dias mais longos no outro hemisfério. Em dois momentos do ano - os equinócios - esses períodos são igualados.


Em 2023, no Hemisfério Sul, a primavera terá início às 03:49h do dia 23 de setembro.



É tempo de resgatarmos nossa conexão com a natureza, de olharmos para a natureza com admiração e respeito, de recuperarmos nosso pertencimento aos ciclos que também nos regem e aproveitarmos essa data para iniciar uma nova relação com a vida do planeta.


Feliz ano-novo do mundo natural!



Por: Patrícia Dijigow





5.226 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Veja nossa seleção especial de livros e gravuras

Não temos nenhum produto para mostrar no momento.

Não temos nenhum produto para mostrar no momento.

Não temos nenhum produto para mostrar no momento.

Não temos nenhum produto para mostrar no momento.

Não temos nenhum produto para mostrar no momento.

Não temos nenhum produto para mostrar no momento.

bottom of page