As festas juninas são consideradas parte da tradição folclórica brasileira, mas sua origem vem de diversas celebrações de antigas civilizações do norte da África, Oriente Médio e Europa, que eram associadas aos rituais de fertilidade agrícola, principalmente de grãos como o trigo - que no hemisfério norte acontece a partir de junho.
O solstício de junho, que marca o início do verão no hemisfério norte, acontece entre os dias 20 e 21 de junho, e era tradicionalmente celebrado com muita intensidade e alegria, incluindo agradecimentos, renovação de votos pela fertilidade da terra e homenagem a deusas e deuses da natureza, em festas que promoviam a união das pessoas através de danças, cantos, cerimônias, partilha de alimentos, casamentos e encontros de familiares e amigos ao redor de fogueiras.
Mesmo com o passar dos séculos e o avanço do cristianismo pelo território europeu, essas celebrações da natureza, consideradas pagãs eram tão fortes e presentes nas diversas sociedades, que não podiam mais ser desfeitas ou desmembradas da tradição popular e cultural.
A estratégia adotada foi uma lenta adaptação dessas antigas tradições, que passaram a ser assimiladas pela instituição religiosa, da mesma forma como aconteceu com outras festividades associadas aos solstícios e equinócios e que deram origem à Páscoa e ao Natal, por exemplo, dentro da nova tradição cristã que estava sendo introduzida.
Com a invasão e processo de colonização das Américas, as festas no território brasileiro passaram a ser celebradas em torno da colheita do milho e de importantes trabalhos agrícolas que são marcados pelo período seco do inverno (no hemisfério sul, o solstício de junho marca o início da estação mais fria).
Esse sincretismo com as celebrações dos ciclos da natureza (que também são festejados pelas comunidades tradicionais indígenas de acordo com cada cultura e cosmovisão) veio através da observação dos jesuítas, que começaram a transferir diversos símbolos e significados para a tradição cristã, adaptando essas simbologias a elementos, práticas e também a plantas aqui presentes ou mais conhecidas e representativas do costume popular.
Ao invés de honrar deusas e deuses pagãos, passou-se a celebrar os santos católicos em datas fixadas pela Igreja: dia 13 de junho (morte de Santo Antônio, em 1231 - século XIII), dia 24 de junho (nascimento de São João, seis meses antes de Cristo) e 29 de junho (martírio de São Pedro, no ano 67). Para cada data, um novo formato de fogueira também foi determinado: quadrado, circular e triangular.
Completamente reinventadas e unidas a novas tradições rurais, as festas juninas também receberam muitas influências africanas (como no preparo de receitas com coco, fubá e amendoim) e de danças da corte europeia (realizadas aos pares) em uma riquíssima combinação com as diversas culturas, músicas, artes e receitas de cada região do país, derivando em diversas expressões ao celebrar as festas de junho.
Mas curiosamente, todas essas expressões mantém vivos os elementos e a força da natureza entre seus principais símbolos: seja o fogo que ilumina, aquece, cozinha e assa os alimentos, a fartura do solo e da colheita, representada na riqueza de sabores e aromas dos alimentos e bebidas, a beleza do luar e do céu estrelado, muito citados nas canções populares, a transformação da madeira pelo fogo, um dos ciclos da matéria orgânica, a resistência das árvores, simbolizadas pelos longos mastros ou ainda a presença de diversas sementes, que possuem o poder de gerar e propagar a vida.
Neste arraial, que tal investigar e conhecer as histórias que cada planta presente ou representada nas festas juninas tem para nos contar?
Por: Patrícia Dijigow
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